Trabalho em uma das áreas mais lindas de São Luís, no Centro Histórico da capital maranhense. Por ali todo dia é dia de um belo pôr do sol, conversa boa… Sempre, sem querer, encontro amigos andando pelas ruas e bato papos rápidos e descontraídos.
Hoje fui com minha filha ao trabalho e depois que terminou o expediente a levei pra ver o pai. Ele agora tem uma tabacaria na Fonte do Ribeirão. Lá comi um quiche de goiabada com queijo maravilhoso. Depois, decidi com ela, assistir ao espetáculo da amiga Cris Campos chamado “Das águas”, a ser apresentado no Centro Cultural Vale.
No caminho passando despretensiosamente, pela rua da Saúde, no bairro do Desterro, encontro o “Café Cuxá” e algumas amigas. Tomei claro um cafezinho, que é um vício antigo, herdado de família. Adorei o lugar, um cardápio interessante, música boa e café gostoso,preço acessível, sem falar no bate papo que foi agradável.
Enfim, chegamos ao Centro Cultural Vale e tive o prazer de ver a estreia do espetáculo “Das águas”. Vou contar um pouco do que vi. Ela começa como que saindo de um guarda-chuva, que parece uma enorme água viva cantando em agradecimento aos deuses e apresentando sua banda formada por músicos pra lá de renomados. O show é meio show meio espetáculo, entre uma música e outra ela conta histórias. São diversas poesias e contos cheios de cores e magia. Um dos contos é o de Narciso, homem vaidoso que se transforma em flor depois apaixonar-se por si mesmo quando se vê num espelho d´água. Lembrei da minha infância, este era um dos contos que mais gostava…
Quanto a banda estava em uma sintonia incrível com Cris Campos. Diversos instrumentos foram apresentados ali, não consegui contar, eram muitos. Tinha berimbau, violão, maracás, pandeiros, sem falar nos sons tirados de taças cheias d´água, cuias em bacias e outros que não sei nem explicar.
A atriz-sereia, banhada em purpurina dourada, no cabelo tranças e adereços que remetiam ao ouro, tinha muito mais que um figurino. Uma alma sem tamanho que dava pra ver ali no palco. Os adereços eram só parte do todo que enobreceu ainda mais a performance da cantora-atriz-sereia Cris.
Ela conseguiu usar todos os elementos a seu favor, numa linda sintonia entre música, corpo e espírito, tudo com muita feminilidade, doçura e em perfeito estado de graça. As canções o tempo inteiro me levaram a vários lugares fazendo sonhar e ver imagens e elementos da natureza, principalmente do mundo azul encantado de rios e mares.
Lá pelo meio uma mulher bêbada intervém falando alto de como estava achando aquilo tudo bonito e todos batem palmas e caem na risada.
A atriz sempre atenta a tudo, dialoga perfeitamente com alguns improvisos que acontecem durante apresentação. Claro, estava ali de corpo presente, plena no palco, que não era palco, mas sim um terraço simples, cheio de luzes e tecidos que compunham uma atmosfera cheia de delicadeza e bom gosto inigualável.
O show é todo autoral, com canções de diversos artistas locais, demonstrando a verdadeira beleza da arte “Made in Maranhão”. Durante a apresentação é falado também do resgate da ancestralidade, Cris oferece o momento a sua mãe que estava na primeira fila atenta a cada palavra. A sereia Cris se refaz e mostra como que na arte tudo pode ser diferente, muda e evolui. Até música de protesto fez parte do repertório, inclusive teve Fora Temer!
A dançarina Ana Duarte também foi lembrada com uma linda canção, dançada conforme os passos da bailarina assassinada a tiros, no ano passado, na BR-135.
Me arrepiei em várias vezes, chorei e senti um imenso sentimento de gratidão por estar ali com minha filha partilhando aquele momento. O público batia palmas o tempo inteiro. Quando a música da Ana terminou minha filha veio perguntar quem era ela.
Arte que é arte serve pra isso, emocionar, fazer sentir, e tirar lá do fundo aquilo que está guardado. E o artista que consegue fazer essa catarse acontecer verdadeiramente consegue cumprir sua missão. O peça vai de momentos de calmaria, a tristeza e agitação, assim como o mar: “Às vezes a maré não está pra peixe, mas o mar é movimento hora em cima, hora em baixo” (trecho de Das águas), assim como a vida da gente.
A atriz- cantora–sereia–Cris termina o ESPETÁCULO agradecendo a Deus e as forças do universo. Realmente só quem acredita em Deus pode acreditar que criou ou viu tamanha beleza. Não sou crítica de arte, mas de uma coisa entendo bem, sentimento! Esse texto é um convite.
O espetáculo ainda acontece nesta sexta-feira (22), 28, 29 de setembro às 19hs, no Centro Cultural Vale, Centro Histórico de São Luís, totalmente grátis. Não percam esta oportunidade!
Ficha Técnica:
Cia: Grupo Xama Teatro
Espetáculo: DasÁguas
Intérprete: Cris Campos
Direção Cênica: Renata Figueiredo e Vivi Vazzi
Direção Musical: Ramusyo Brasil
Roteiro: Cris Campos, Renata Figueiredo e Vivi Vazzi
Técnico de luz: Lauande Aires
Técnico de Som: Cid Campelo
Percussão e voz: Fernanda Preta
Percussão e cordas: Jales Carvalho
Cordas: Hugo Cesár
Bateria: Thierry Castelo Branco
Cenário, figurino e direção de arte: Aurea Maranhão
Adereços e elementos de cena: Urias de Oliveira e Emanuel Balata.
Fotos: Ramusyo Brasil, Paula Barros e Paloma Barros
Vídeos: Beto Pio
Produção: Cris Campos e Renata Figueiredo