Com ou sem crise, o reggae resiste na Jamaica Brasileira

Duas semanas atrás sai de casa pra curtir umas pedras no novo Chama Maré, administrado por Ricardo Pororoca. Foi um momento de descontração, de identificação e afeto por este ritmo que veio da Jamaica, uma ilha situada no Mar do Caribe, e aportou por aqui já desconstruindo, ao respeitar, mas não legitimar a religião Rastafari, a essência da filosofia do reggae de Bob Marley e o contexto social jamaicano, que faziam com que o povo de lá dançasse demonstrando uma consciência crítica social mais aguçada. Por aqui, a visão é outra: a vertente surge com força, estigma e o jeito típico maranhense de dançar agarradinho, tornando a sonoridade jamaicana mais sensual”.
Chama Maré. Foto: Carlos Alberto Brasileiro.
 As diferenças existem, mas o reggae daqui tem alguma semelhança com o reggae de lá, por ter nascido nos “guetos” e se manifesta como símbolo de resistência.

Para os que fecham os olhos, tapam a boca, o nariz, simplesmente, por conta de um pré-julgamento precipitado, o DNA do gênero jamaicano tem elo com a mãe África. É filho legítimo e negro, do bumba meu boi, do tambor de crioula, do cacuriá e do tambor de mina, numa constatação que as culturas não são estáticas e que toda essa polirrítmia é produto da diáspora africana.

Em linhas gerais, o reggae surgiu como uma espécie de ‘grito’ de uma classe marginalizada na Jamaica e fixou morada pras bandas de cá, sabe lá como. Sei que ele é digerido de forma diferente, cheio de particularidades, efervescente e, às vezes, polêmico, principalmente, por aqueles que controlam a cadeia produtiva e político-social do gênero na Jamaica Brasileira.

Como todo e qualquer negócio, os interesses existem, mas as peculiaridades do movimento reggae na cultura ludovicense, em verdade, são resultados da dinâmica social e comportamental da própria cidade.

Aqui consumimos e cultuamos com mais consistência o reggae que vem da radiola e não de bandas, embora exista um movimento de músicos orgânicos e afinados com o gênero pipocando pelos quatro cantos da cidade.

Em meio a resistência e turbulências, o gênero musical originário da África, ganhou visibilidade global na Jamaica, desembarcou em território maranhense, para criar raízes e uma identidade cultural tão profunda, heterogênea, aliada ao poder mercadológico e midiático.

 

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