Roteirização
A criação de Guriatã iniciou em 2010, roteirizado a partir de centenas de registros realizados desde 1999, em uma convivência de Renata Amaral com o Mestre Humberto, que dirigiu parte das gravações com a intenção inicial de reunir a memória dos bumba bois da Ilha de São Luís.
Dezenas de entrevistas, apresentações do Boi de Maracanã, shows e celebrações revelam sua trajetória dentro do bumba boi, sua atuação como artista e líder comunitário, as relações familiares, religiosas, sua ligação profunda com a Incantaria e seu imaginário.
As gravações acompanham toda a temporada junina e os outros momentos do ciclo da brincadeira: o nascimento, o batizado e a morte do Boi, os autos dramáticos, os encontros de Bois de São Pedro e São Marçal, rituais religiosos e o trabalho dos artesãos na preparação da temporada.
Trazem registros de encontros de Mestre Humberto com antigos brincantes e mestres de Bumba Boi e outras tradições populares, em entrevistas conduzidas por ele. A história do bumba boi na Ilha de São Luís é reconstruída a partir da memória de Humberto, assim como as transformações das brincadeiras populares e a geografia particular da ilha ao longo de sua ocupação desde a década de 1940.
O documentário apresenta, ainda, imagens capturadas em 2014, que mostram os últimos momentos de Mestre Humberto à frente do bumba boi. O DVD também conta com um extra: o curta-metragem 3 Pedras, sobre o encontro inédito entre três dos maiores mestres das tradições populares brasileiras: Mestre Humberto de Maracanã, o Babalorixá Euclides Talabyan e Mestre Apolônio, todos mortos no mesmo ano.
Instituição
A Associação Recreativa e Beneficente de Maracanã é uma comunidade centenária localizada na zona rural de São Luís (MA). Com mais de mil integrantes, é um dos dois maiores e mais conhecidos conjuntos tradicionais do estado. Referência na cultura popular maranhense, o grupo tem participado de diversos documentários e projetos de registro como Tambores do Maranhão, de Paulo Cesar Soares, e Turista Aprendiz, de Pola Ribeiro. É também tema de teses e artigos de pesquisadores de todo o Brasil.
A fixação da população do bairro de Maracanã remonta aos primórdios do século 19, como área típica de produção rural da época, com economia de subsistência, tendo como exemplo a família de Antonio Algarves – fazendeiro e proprietário de escravos na região. Essa conjuntura do século passado é que deu origem ao grupo, cuja referência mais antiga leva ao ano de 1875.
Lenda
O Boi é tema de inúmeras manifestações populares em todo o Brasil. Do Boi de Mamão de Santa Catarina aos grandes espetáculos amazônicos do Boi de Parintins. De norte a sul do país se encontra gêneros que tem o Boi como figura central. Integra dança, música, poesia, teatro e artesanato.
No Maranhão, é um fenômeno sociocultural de grandes proporções cujo auge do ciclo – o batismo do Boi – acontece no dia de São João Batista, sincretizado com Xangô – o orixá do trovão – como padroeiro maior. A ele são oferecidos como pagamento de promessas ou afirmação da devoção as brincadeiras de Bumba boi maranhenses.
Em um ciclo longo e ritualizado, que compreende o nascimento do Boi no sábado de aleluia, seu batismo em 24 de junho, e sua morte em período que varia de agosto a dezembro, grupos de todo o estado movimentam um mercado cultural com lançamentos de CDs inéditos, montagens de arraiais, confecção de instrumentos e fantasias bordadas em mosaicos de miçangas e canutilhos. A festa também toma conta das programações de rádios locais e compromete grande parte do orçamento dos órgãos públicos, bem como o das próprias comunidades.
O batuque do bumba boi maranhense é forte. A trupiada, nome dado ao baque, é uma orquestra composta por instrumentos como matracas, pandeirões, maracás e tambores-onça. É baseado em um auto que tem como personagens principais Catirina – a mulher grávida que deseja comer a língua do boi; Nego Chico, seu marido e vaqueiro encarregado de cuidar do boi; o Amo, fazendeiro dono do boi e puxador das toadas; vaqueiros, índios e o próprio boi.
Mini biografias
Renata Amaral – Direção e Roteiro
Formada em Composição e Regência e pós-graduanda em Performance pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Se apresenta no Brasil e Europa ao lado de artistas como A Barca, Ponto br, Tião Carvalho, Sebastião Biano e Orquestra Popular do Recife. Pesquisadora e contrabaixista, desde 1991 reúne um dos mais significativos acervos de tradições populares brasileiras, tendo produzido 30 CDs e 10 documentários de gêneros tradicionais, que receberam os prêmios Rodrigo Melo Franco de Andrade, do IPHAN (2012 e 2017), Rumos, do Itaú Cultural, Troféu Guarnicê, Prémio Cláudia, 23º Prémio da Musica Brasileira. Recebeu por duas vezes o prêmio Interações Estéticas da Funarte, ao realizar residências artísticas no Maranhão e no Benin.
É autora do livro Pedra da Memória, com os grupos A Barca e Ponto br. Gravou cinco CDs e realizou mais de 500 apresentações em projetos de circulação, registro e arte educação. Ministra cursos e oficinas com foco em Cultura Tradicional em escolas e universidades. Em 2017 seu projeto Acervo Maracá recebeu pela segunda vez o Prêmio Rodrigo Melo Franco Andrade.
André Magalhães – Co-produção e Edição de Som
É baterista e percussionista especializado em ritmos brasileiros. Atua como produtor musical e engenheiro de áudio especializado em gravações de instrumentos acústicos e gravações externas no campo da cultura popular. Integrante do grupo A Barca, participou como produtor musical do filme Turista Aprendiz, no qual realizou gravações em nove estados brasileiros em uma viagem coletando músicas, imagens e experiências com os mestres, festas e comunidades da cultura popular.
Em 2003 e 2004 participou do projeto Sons e imagens da Terra, com registros de cantos de trabalho com origem na lavoura, em lugares como Oilarais, Fim de Capina, Boi Roubado, Bata de Feijão, Aboios e Estaladeiras de Fumo.
Com povos indígenas, registrou, por exemplo, diversas aldeias de Guaranis em toda a extensão da mata atlântica, que resultou em três CDs de cantos. Como diretor técnico e engenheiro de áudio do grupo Barbatuques, participou de turnês no Brasil, França, Colômbia, Portugal, Espanha, Líbano, Suíça, entre outros. Ainda, realizou a produção musical do disco Sebastião Biano e Seu Terno Esquenta Muié, e integrou o grupo Aquilo del Nisso, de 1987 a 2001, com o qual gravou cinco discos, sendo dois deles indicados ao Prêmio Sharp como melhor grupo instrumental.
Aline Fernandes – Produção Executiva
Atua na área de produção cultural desde 2010. Trabalha na Maracá Cultura Brasileira, produtora que tem como foco o diálogo e a e a movimentação da cultura tradicional na elaboração de projetos, prestação de contas, captação de recurso de projetos. É coordenadora da Igarapé, que atua com projetos e artistas como Ana Maria Carvalho, Cris Campos, Lia de Itamaracá, Jonathan Silva, Douglas Germano.
Diana Gandra – Supervisão de Montagem e Roteiro
Graduada em publicidade e propaganda e com especialização em audiovisual, realizou mestrado em Artes e Linguagens na EHESS (école dês hautes études en sciences sociales) em Paris, na França, com pesquisa que aborda a realização de um documentário sobre rituais de religiões afro-brasileiras.
Realizou diversos trabalhos com montagem, videografismo e roteiro. Produziu vídeos institucionais para empresas e eventos como: Petrobrás, White Martins, Tangolomango e Penedo Ryder. Também foi produtora da série televisiva 20|30|40, para o Canal GNT; de vídeos culturais para mostras e exposições, entre elas: 110 anos de Pixinguinha, 80 anos de Tom Jobim; e o curta-metragem Carlos Braga, Carlinhos, João de Barro, Braguinha.
Atua também como documentarista, destacando as produções: A tradição da Gravura, vídeo da mostra do artista Edgard Cognat; Metal em Movimento, criado especialmente para a exposição do artista visual André Duarte; os documentários O que o olho não vê, o coração desmente e Toques de um livro documentado.
Rumos Itaú Cultural
Um dos maiores editais privados de financiamento de projetos culturais do país, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 64,6 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do país e do exterior.
Destes, foram contempladas mais de 1,4 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.
Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 6 milhões de pessoas em todo o país. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.
Nesta edição de 2017-2018, os 12.616 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país.
Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 21 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 109 projetos, contemplando todos os estados brasileiros.
SERVIÇO:
Rumos Itaú Cultural 2015-2016
Pré-lançamento do documentário Guriatã
Dia 23 de junho
Às 22h
Local: Rua da Igreja, 99 – Bairro do Maracanã – São Paulo – SP
Entrada gratuita
Classificação livre