O cantor e compositor mineiro, Lô Borges, é uma das atrações de abertura da décima versão do Lençóis Jazz e Blues Festival, nesta sexta-feira (10/8) em Barreirinhas, distante a 252 Km de São Luís, capital maranhense. Integram também o ‘line up’ da noite, Renato Serra Quarteto (MA) e Jefferson Gonçalves e Gustavo Andrade (RJ/MG).

Em conversa com este Blog, o músico declara que ficou muito feliz com o convite em voltar ao Maranhão e participar do aniversário de uma década de existência do festival de Jazz e Blues, idealizado por Tutuca Viana Produção. Falou ainda da sua afinidade com o público maranhense quando esteve por aqui na década de 80.
– Fiquei muito lisonjeado com o convite que recebi em voltar ao Maranhão após alguns anos distantes daí. É sempre agradável tocar aí. Já estive em São Luís lá pelos anos 80 e retorno em um festival de Jazz que está festejando 10 anos – frisa.
Acompanhado do guitarrista mineiro, Henrique Matheus e Telo Borges (teclado), Lô disse que vai apresentar no festival o show “NADA SERÁ COMO ANTES’, em que homenageia o parceiro Milton Nascimento, precursores do movimento Clube da Esquina.
– Neste show no Maranhão eu vou fazer uma conexão com a música de Milton Nascimento, parceiro há quase 40 anos. Um músico que o destino nos colocou frente a frente naquele momento da música brasileira com o Clube da Esquina. Pesquisei o acervo precioso dele e apresentar essas canções acompanhado do guitarrista conterrâneo, Henrique Matheus. Fiquei muitos anos sem ir para o Maranhão. E o meu retorno será com este show especial feito para este momento do festival – assegura.
O trabalho icônico de Lô Borges, conhecido como o “Disco do Tênis”, por causa da imagem de um par do calçado surrado na capa, é um dos mais importantes da discografia nacional. O músico aproveitou para falar da revitalização do ábum, relançado em vinil e futuramente em DVD, de como seu disco influenciou “Tranquility Base Hotel & Casino”, álbum do grupo inglês Arctic Monkeys.
Comentou sobre a sua afinidade com as outras gerações e estilos, além da sua visão com a música, a atual conjuntura de mercado versus tecnologia, tendo como referência o CLUBE DA ESQUINA.

PEDRO SOBRINHO – Qual o significado do Disco do Tênis na sua história com a música ?
LÔ BORGES – Foi uma consequência feliz estar presente no movimento do Clube da Esquina como compositor e artista fonográfico. Eu tinha apenas 20 anos, em 1972. Senti o peso, a responsabilidade e o desafio como um jovem músico daquela época.
Quando saiu o disco Clube da Esquina, feito com Milton Nascimento, em 1972, a gravadora gostou das minhas músicas e me ofereceu um contrato para gravar um disco solo no mesmo ano. Aí que a coisa começou a pegar mesmo.
Veio o disco homônimo, que ficou conhecido como o “Disco do Tênis”. Foi um trabalho concebido com uma certa urgência, que aponta para várias direções. Eu estava ali no Rio, achava que era capaz e que era um desafio. E o desafio para um um jovem músico é sempre bom. Eu achei um pouco sufocante sim, mas resolvi encarar. E também porque me convidaram para fazer música, para fazer algo que eu gostava.
Eu pensei: “Não tenho nenhuma canção, mas eu vou criar, vou arregaçar as mangas. E foi o que aconteceu. Devido a intensidade do trabalho, muito novo, morando fora de casa, o Brasil vivendo o conflito da Ditadura Militar. Diante de tanta coisa para viver e administrar, resolvi dar uma brecada na carreira neste período.
Mas, o Disco do Tênis tem sua importância. É uma trabalho que continua cultuado em nichos ao longo desses 45 anos e por ter dado passo libertário na minha trajetória musical. A maior prova, que eu reconstrui um projeto do show do “Disco do Tênis”, em que percorri várias cidades brasileiras no ano passado.
PEDRO SOBRINHO – Como foi pra você ver o disco “DISCO DO TÊNIS” citado com elogio pela banda britânica Artic Monkeys ?
LÔ BORGES – Quando vi a notícia, fiquei muito lisonjeado com os elogios ao disco. Foi uma surpresa agradável em saber da expressividade dos jovens músicos da banda inglesa. Eu tinha pouco conhecimento da música do Arctic Monkeys. Pesquisei, e ouvi todo o disco “Tranquility Base Hotel & Casino”. Gostei muito !
PEDRO SOBRINHO – Você é um referencial histórico na música brasileira. Tem gravações com o Ira!, Samuel Rosa, do Skank, Arnaldo Antunes. Na sua opinião o músico jamais deve ficar deitado em berço esplêndido ?
LÔ BORGES – Aprendi que meu verbo predileto em música é transitar com as gerações e as estéticas musicais diferentes. Já gravei com Milton Nascimento, Wagner Tiso, Tom Jobim, Elis Regina. Mas, gosto de me colocar à disposição dessa geração mais nova e me agrade do estilo. Já gravei com o Ira!, Arnaldo Antunes, Tom Zé, Samuel Rosa, vocalista do Skank, com quem fiz um CD e DVD. Como mineiros nos apropriamos um da música do outro. Foi uma troca de gerações e ao mesmo tempo afinidades com o que nos move a música.
PEDRO SOBRINHO – Na música brasileira da atualidade existe espaço para a ousadia estética que marcou a sonoridade da Instituição Clube da Esquina ?

LÔ BORGES – O Clube da Esquina, como um coletivo de música, não conseguiria subverter a ordem nos dias atuais. Vivemos em um tempo marcado pelo individualismo, em que a internet veio para facilitar com um certo egocentrismo e concorrência mercadológica. Hoje, o músico faz o seu trabalho em casa com os recursos que ela propicia e viraliza para milhões de pessoas. Existe um outro fator que já interferia no período do Clube da Esquina e que hoje em dia se faz muito mais presente no processo de manipulação: chama-se mídia. Todo e qualquer movimento musical com estética ousada e criativa que foi feita lá atrás é improvável que reverbere como indústria cultural de massa nos dias de hoje.
PEDRO SOBRINHO – O que você traz musicalmente para o Lençóis Jazz e Blues Festival no Maranhão ?
LÔ BORGES – Fiquei muitos anos sem ir ao Maranhão. Fiz muitos shows na década de 80 em São Luís. Fiquei agradecido com o convite que recebi para tocar no Festival de Jazz aí. Vou apresentar o show “NADA SERÁ COMO ANTES”, acompanhado do guitarrista, daqui de Minas, Henrique Matheus e meu irmão Telo Borges (teclado). É uma homenagem que faço a Milton Nascimento. Será uma conexão minha com a vasta obra de Milton Nascimento, que tenho o privilégio de ter conhecido na vida e parceiro musical. Além da música, eu vou matar a saudade do público maranhense. Um abraço carinhoso a todos e vamos interagir neste show em que canto Milton Nascimento e festejo os 10 anos do Lençóis Jazz e Blues Festival.
PEDRO SOBRINHO – Obrigado Lô Borges pela conversa…
LÔ BORGES – Foi um prazer trocar essa ideia com você.