Atriz maranhense selecionada em Mostra de Teatro do Itaú Cultural

A atriz maranhense Brena Maria, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), participa, em São Paulo, da programação “a ponte: cena do teatro universitário”. Trata-se da Mostra que o Itaú Cultural realiza, a partir desta quinta-feira (24/1), até 4 de fevereiro, reunindo 14 espetáculos de diferentes estados selecionados pela convocatória que o instituto realizou no ano passado. Ela foi a única selecionada do Maranhão, entre os 230 inscritos de todo o Brasil.

Existe Muita Coisa Que Não Te Disseram na Escola. Foto: Eduardo Marques

A atriz vai se apresentar nos sábado (26/1) e domingo (27/1), com o espetáculo “EXISTE MUITA COISA QUE NÃO TE DISSERAM NA ESCOLA”. Por meio de poesia, canto e dança, a peça trata das experiências de uma mulher que reflete sobre sua geração, o passado e a busca para quebrar ciclos e alncaçar lugares de pertencimento. Ao descobrir-se negra no ambiente de ensino, essa jovem revela a força que reside e resiste em um corpo e um alma, marcados pelo preconceito.

Além do Maranhão, foram selecionados, ainda, grupos do Amazonas, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, que também serão apresentados nessa programação de doze dias, com espetáculos marcados pelo hibridismo de linguagens como dança, teatro de bonecos, ações performáticas, teatro de rua e caixa cênica, além da presença temáticas voltadas a questões raciais, de gênero e política.

Programa

Com quase 180 participantes vindos de diversas regiões brasileiras, o evento apresenta 14 espetáculos selecionados entre os 230 inscritos na convocatória aberta em outubro do ano passado pelo instituto para estudantes de cursos técnicos e universitários de artes cênicas espalhados pelo território nacional. Os trabalhos são marcados pelo hibridismo de linguagens como dança, teatro de bonecos, ações performáticas, teatro de rua e caixa cênica, além da presença temáticas voltadas a questões raciais, de gênero e política.

O resultado é uma grande mostra que abre espaço ainda para debates sobre a produção cênica neste ambiente, intercâmbios entre os participantes e a participação especial dos grupos Coato e Nós do Morro – vindos, respectivamente, de formações acadêmica e livre, hoje eles estão consolidados no cenário do teatro nacional.

Ao longo da programação, o público participa de uma enquete sobre qual espetáculo gostaria de ver novamente apresentado no Itaú Cultural. O mais votado será convidado a voltar ao palco da instituição para uma minitemporada.

– O teatro é a arte do encontro e o Itaú cultural serviu de ponte para aproximar estudantes e professores de todas as regiões do país confirmando o potencial de inovação do teatro estudantil brasileiro”, observa a gerente do Núcleo de Artes Cênicas do instituto, Galiana Brasil. A ideia, de acordo com ela, é que a mostra revele um recorte desse mapeamento múltiplo e inquieto que a convocatória revelou. “Assim, se dá corpo a uma espécie de sala de aula expandida, em que o público poderá acompanhar processos de aprendizagem materializados não apenas nas cenas como também nas ações formativas inspiradas pelas vozes desses trabalhos – conclui Galiana.

A programação abre na véspera do aniversário de São Paulo, dia 24 de janeiro (quinta-feira), às 20h, com Eu é outro: Ensaio sobre fronteiras, do Grupo Coato, convidado especial para o evento. Trabalho de conclusão do curso de direção de Marcus Lobo, estudante da Universidade Federal da Bahia, o espetáculo debate, entre outras questões, as fronteiras que existem entre as pessoas, bem como as possibilidades de integração. A reflexão parte da percepção e reformulação do corpo dentro de um todo como coletivo/organismo/integrado que perpassa questões geradas pelas relações com os outros.

Nos dias seguintes, o público confere os espetáculos selecionados pela convocatória a_ponte. Ação performática do curso livre do SESC Pernambuco, Procura-se um corpo – Ação n° 3, faz a sua primeira apresentação no dia 25 (sexta-feira), às 17h. A partir do teatro/performance, um elenco de 18 atuadores faz uma provocação poética sobre as feridas ainda abertas pela ditadura militar e promove um debate político/estético em busca de uma consciência crítica do público. O espetáculo é reapresentado no domingo, dia 27, no mesmo horário.

Ainda no dia 25, às 20h, é apresentada a comédia dramática O Auto das Consciências, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Em cena, um sacerdote ouve vozes, que ele acredita serem do diabo, durante um ritual de exorcismo diante da imagem de um homem branco, aloirado e lânguido, tido por ele como Jesus. Ao longo do ritual, a imagem de homem branco vai enegrecendo e o sacerdote se convence do seu racismo, denunciado pelas vozes.

Fim de semana para todos

No sábado e domingo, dias 26 e 27, parte da programação de a_ponte é voltada para públicos de todas as idades. Às 14h30 dos dois dias, o Mini Festival de Mini Criaturas Animadas, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) inicia a série de apresentações do fim de semana com uma reunião de pequenos espetáculos de teatro de bonecos, como o Poema da Lua, que traz a magia do balé flutuante de amantes fantásticos, e Causos de um Viajante, sobre a aventura de um balão em fuga.

Na sequência, às 15h, a peça João-de-Barros, gestada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) busca um diálogo entre as crianças que seguem vivendo no interior dos adultos. Charles Valadares assina a concepção, atuação e dramaturgia desta apresentação de cenário simples. Trata-se de uma obra autoficcional que nasce da conversa entre a poesia de Manoel de Barros, as memórias infantis do artista em cena e suas experiências como professor de Teatro para crianças, bem como os atravessamentos de questões tangentes ao nosso tempo. Ele retoma o mar que inventou quando tinha cinco anos de idade no quintal da casa onde morava. Hoje crescido, ele reinventa essas memórias e convida o público a segui-lo no imaginário.

Nestes dois dias, os espetáculos da noite são abertos por “EXISTE MUITA COISA QUE NÃO TE DISSERAM NA ESCOLA”, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

No sábado, este espetáculo é seguido por Nosso Estado de Sítio, da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Um grupo de 14 alunos dirigido pelo professor Marcelo Ádams busca no texto Estado de Sítio, de Albert Camus, sobre o fim do mundo as equivalências com a atual situação política do Brasil e os medos que afligem a população.

Xica encerra, no domingo, a programação do fim de semana. Este que é o quinto espetáculo de repertório do Coletivo Das Liliths, da Universidade Federal da Bahia, foi criado a partir da necessidade de visibilizar histórias de pessoas LGTBQI+ no Brasil, em especial no período colonial. Baseado em fatos reais, a peça conta a história de Francisco Manicongo, negro africano escravizado, quimbanda considerado como a primeira travesti não-índia do Brasil. Passou a se chamar Xica e tornou-se símbolo de luta e resistência ao ser denunciada à Inquisição por recusar-se a usar roupas masculinas e a atender por seu nome de batismo.

Segunda semana

Sem pausa, a_ponte: cena do teatro universitário segue na segunda-feira, 28, às 20h, com o teatro político Terra Tu Pátria, do Comitê Escondido Johann Fatzer, criado em 2017 na Universidade de São Paulo (USP) por artistas com diferentes trajetórias de formação. A falência do mundo institucional e político brasileiro é a base do espetáculo dirigido por Vicente Antunes Ramos, sobre documentos da história recente do Brasil, que ressoam gritos acumulados ao longo dos últimos anos e permitem imaginar um futuro possível.

O hibridismo de linguagens na programação é marcado por Pequenas Danças para Não Esquecer, que o Coletivo de Dança Redemoinho – formado por atores, bailarinos e estudantes dos Curso de Graduação em Teatro e Dança da Universidade Federal da Paraíba (UFPA) – apresenta na terça-feira, 29, também às 20h. O espetáculo, inspirado no livro Ou Isso Ou Aquilo, de Cecília Meireles, usa a dança como linguagem para compartilhar com o público experiências derivadas das relações entre poesia, cultura popular e corporeidade.

A dança volta a marcar presença na programação na quarta-feira, 30, quando a Dois Pontos Cia de DançaTeatro, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), apresenta Insânia Loquaz. O título é uma referência ao primeiro texto escrito no Brasil sobre doenças mentais, em 1831, por José Jobim. O espetáculo utiliza a dança de salão como linguagem principal para abordar o tema da loucura. No palco os bailarinos dançam a esquizofrenia, o transtorno obsessivo-compulsivo e a bipolaridade, utilizando Libras (Língua Brasileira de Sinais) por meio de um conceito autoral e inovador de coreografia de sinais, onde esta linguagem é incorporada ao contexto coreográfico do espetáculo.

Na quinta-feira, dia 31, a temática voltada às questões raciais é novamente abordada com Encardidos, da Universidade do Estado de Mato Grosso (UEMG). A peça é composta por quatro ações performáticas sobre o racismo ainda presente na sociedade e enraizado na vida daqueles cuja cor da pele é preta. Em cena, os atores realizam um jogo de submissão e poder para recontar a história do negro com seus próprios corpos, provocando reflexão quanto à realidade vivenciada.

Do Amazonas vem o espetáculo Estrelas Cor de Sangue, que o curso técnico Liceu de Artes e Ofício Cláudio Santoro apresenta no dia 1 de fevereiro (sexta-feira). Focado na guerra interior de cada pessoa, ele conta a história real-ficção de Alice e Felipe, crianças da guerra, da chacina, da favela ou de qualquer lugar do mundo. A montagem traz em sua concepção cênica o teatro físico do absurdo e oprimido, em um brinde com sangue e pureza sobre o olhar frio da sociedade, o viver e sobreviver.

No sábado, dia 2, a turma 65 do curso profissionalizante de interpretação da Escola de Atores (Indac), de São Paulo, apresenta Laranja Mecânica, texto dos anos de 1960 do inglês Anthony Burgess (1917-1993), que se tornou um clássico do cinema ao ser transportado para as telas por Stanley Kubrick (1928-1999). A narrativa é sobre um jovem que se diverte com os amigos cometendo crimes. Ao ser preso, ele é submetido a um novo tratamento promovido pelo Estado para reprimir seu desvio comportamental, o qual o deixa fisiologicamente impossibilitado de reagir quando integrado à sociedade. Nesta montagem, a dramaturgia final está enriquecida por músicas autorais de parte do elenco, as quais serão interpretadas pela banda Os Amanticidas.

A apresentação de domingo, 3, às 19h, é a última resultante da convocatória: Arame Farpado, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela é parte da monografia de Phellipe Azevedo, que assina a direção, tendo como eixo central uma reflexão sobre o diálogo entre a universidade, o teatro e a favela, feitos a partir de pichações racistas encontradas no Centro de Letras e Artes da universidade em junho de 2017. Em cena, quatro atores contam suas memórias e anseios, costuradas, aos poucos, com o público, e lançam a questão: Quando a democratização do acesso à educação será radicalmente estabelecida?

O encerramento da programação fica por conta de mais um convidado especial: o grupo carioca Nós do Morro, que apresenta na segunda-feira, dia 4 de fevereiro, às 20h, Encontros, 32 anos depois. Criado em 1986 no Morro do Vidigal, com objetivo de proporcionar o acesso à arte e à cultura para crianças, jovens e adultos, o grupo fundado por Guti Fraga decidiu comemorar os 32 anos de atuação, completados em 2018, revisitando o espetáculo Encontro, sua primeira produção. Este, falava da vida dos adolescentes do Vidigal na década de 1980, mostrando os principais pontos de encontro e os problemas enfrentados no cotidiano dos moradores de uma favela.

Mais de três décadas depois, a peça volta à cena em uma releitura assinada por Fabrício Santiago, com colaboração de Álamo Facó, usando o mesmo argumento da primeira montagem, mas adaptando situações para o contexto atual, com a dinâmica de uma sociedade cada vez mais impactada pela globalização.

Mesas, encontros e compartilhamentos

Indo além das encenações sobre o palco, a_ponte: cena do teatro universitário convida o público a refletir sobre os 14 espetáculos apresentados na programação, além de debater sobre questões que movimentam essa cena. Em paralelo, os selecionados pela convocatória participam de encontros fechados, para intercâmbios de experiências.

No dia 28 (segunda-feira), 17h, a mesa Festivais Universitários, uma expansão da sala de aula reúne a idealizadora e coordenadora geral do Festival Estudantil de Teatro (FETO), Bárbara Bof, o ator, diretor e professor de Artes da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Narciso Telles, e a atriz e diretora teatral Pita Belli. Com mediação de Fábio Hostert, ator, encenador, professor e coordenador do Festival Internacional de Teatro Universitário de Blumenau (FITUB), o debate gira em torno da importância dos festivais de teatro universitários e a sua contribuição na ampliação de experiências nos processos formativos.

O segundo encontro, Sobre as urgências da cena: de onde se faz/diz, o que se faz/diz, como se faz/diz?, acontece no dia 29 (terça-feira), às 17h. Nele, são analisadas as relações entre os processos formativos – livres, técnicos e universitários – e os territórios em que se inserem dentro do campo das artes cênicas. Participam o professor Luiz Lerro, a atriz, pesquisadora, encenadora e produtora Tânia Farias e a professora, diretora e fundadora da Cia Teatro Balagan Maria Thais, que também media o debate.

Em paralelo, acontecem quatro dias de encontros com críticos e especialistas para falarem sobre suas percepções e leituras dos espetáculos apresentados: dia 28 (segunda-feira), o ator, diretor e professor Vicente Concilio analisa Procura-se um corpo: Ação nº3, O auto das consciências e Nosso Estado de Sítio. A diretora, dramaturga e atriz do Grupo SOBREVENTO Sandra Vargas se debruça sobre Mini festival de mini criaturas e João-de-Barros. No dia 29 (terça-feira), o crítico Valmir Santos fala sobre Existe muita coisa que não te disseram na escola, Xica e Terra tu Pátria.

Na semana seguinte, o terceiro encontro acontece no sábado, dia 2, com a artista da dança, antropóloga e mediadora cultural Luciane Ramos tratando de Pequenas danças para não esquecer e Insânia Loquaz, enquanto no dia 4 (segunda-feira), o ator e professor Roberto Lúcio analisa Encardidos e Estrelas cor de Sangue, e a atriz e encenadora Luciana Lyra, Laranja Mecânica e Arame Farpado.

Ao longo da programação, os críticos e jornalistas Beth Néspoli e Kil Abreu conduzem sete encontros prático-teóricos (cujas inscrições já foram encerradas), com o objetivo de compartilhar, discutir e articular conhecimento sobre as artes cênicas com produção de textos.

Aos selecionados, a convocatória a_ponte proporciona, ainda, uma programação fechada com visitas e encontros com os grupos já consolidados Teatro do Osso, a Cia Mungunzá e o Nós do Morro – este último participa, ainda, de um encontro com o grupo Filhos da Dita, de São Paulo, que também tem sua origem como curso livre de teatro.

SERVIÇO

a_ponte: cena do teatro universitário

De 24 de janeiro a 4 de fevereiro (quinta-feira a segunda-feira)

Entrada gratuita

Distribuição de ingressos:

Público preferencial: 1 hora antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)

Público não preferencial: 1 hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

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