‘O reggae é muito mais que música e diversão’

A produtora cultural baiana, Jussara Santana, do Movimento Aspiral do Reggae, o músico Kamafeu Tawa (MG) e do DJ Ras Péu (BA) aportaram por sete dias, em São Luís, para conhecer de perto o movimento de reggae na ilha e de quebra acabaram aliando o útil ao agradável, prestigiando a diversidade cultural e rítmica maranhense durante os festejos juninos na ilha também, denominada como o Jamaica Brasileira e Capital Brasileira do Reggae.

Conexão Reggae Maranhão-Bahia

Conexão

Jussara Santana, que já esteve na cidade em outra ocasião, disse que o retorno foi significativo. Desta vez, ela veio para uma troca de informações com quem faz o movimento reggae em São Luís, na sede do GDAM.

Produtora cultural baiana. Jussara Santana. Foto: Facebook

Participaram da reunião artistas, colecionadores, produtores, DJs, tranceiras, antropólogo e representantes das Secretarias Municipal e Estadual de Turismo. Durante o encontro, ela apresentou o projeto da Casa Cultural Reggae como referência, também, para os maranhenses.

– Apresentei o nosso projeto da Casa Cultural Reggae com o que queremos para Salvador. Deixei uma cópia com os representantes presentes. Também deixei como proposta que Bahia e Maranhão possam organizar e realizar um grande evento com a cadeia cultural Reggae em 2018, (show, seminário, com a presença de Djs, produtores, artistas, colecionadores e o Poder Público. Foi com este tipo de iniciativa que apresentamos a Lei Nacional do Reggae- N.12.360/12 que foi proposta pela Associação Cultural do Reggae (BA) e o Congo Naya (DF). O objetivo dessa lei é de celebrar no Brasil o imortal BOB MARLEY (REGGAE). Mas essa lei em particular ela tem caráter cultural e racial, pois foi assinada pela Presidente Dilma Roussef, a ministra da Cultura Ana de Holanda, e a Ministra da SEPPIR- Secretaria de Políticas de Promoção de Igualdade Racial Luiza Bairros. Enfim, propomos, também, que o Maranhão possa fazer com que as bandas tenham ascensão, pois o Estado é conhecido como a Jamaica Brasileira. Foi o primeiro encontro, super positivo e proveitoso. Acredito que iremos ter outros, em breve. Agradeço a Célia Sampaio por proporcionar esse encontro. Saio com a sensação que poderemos caminhar juntos em prol do Reggae – assegura.

Músico maranhense Thiago Guterres, da banda Crioulo D`IFé. Foto: Divulgação

Para Thiago Guterres, integrante da banda Crioulos D´IFé, o encontro serve como o início de uma conexão do movimento reggae Maranhão/Bahia.

– Estamos vivendo hoje um momento importante para o reggae do Maranhão. Foi uma troca de informação valiosa. Mostramos as ações que vêm sendo feitas, numa parceria da Comissão do Reggae com o Poder Público, na busca de melhoria para cadeia produtiva do reggae no Estado, especialmente, em São Luís conhecida como a Jamaica Brasileira para o mundo. Também trouxeram as experiências vivenciadas por eles na Bahia. Enfim, é sempre bom buscas por ideias que venham fortalecer o reggae em nosso Estado. Com todas essas as iniciativas, é necessário se conscientizar da importância das bandas, artistas, nas casas de shows, numa aliança com os Djs e colecionadores. Quem ganha com isso é a massa regueira, as pessoas locais e as que nos visitam para conhecer de perto essa Jamaica Brasileira, Capital Brasileira do Reggae – esclarece.

Indagada sobre a forma como trilha o reggae produzido e consumido em São Luís, Jussara disse respeitar a maneira como o maranhense enxerga e consome o reggae, cultuando as radiolas, as festas. Ela defende, também, a realização de mesas de debates sobre o tema.

– É necessário fóruns de discussões para mostrar a importância sócio-política do gênero para os maranhenses e como um fomento do turismo gerador de emprego e renda. Enfim, o reggae é muito mais que música e diversão – adverte.

Reconhecimento

Ela também sentiu a ausência do reggae nos arraiais nos festejos juninos, e sugere que o estilo musical , que faz de São Luís, a Jamaica Brasileira, seja inserido no evento, como iniciativa para legitimar o elo existente entre o bumba meu boi, o tambor de crioula e o reggae, tendo em vista que todas essas vertentes são oriundas da mesma mãe: a África.

– São Luís se divulga lá fora com o rótulo, o título, de Capital Brasileira do Reggae, Jamaica Brasileira. É necessário que estes títulos sejam legitimados sempre com ações e se mostrando para o mundo. Com todo respeito a cultura do bumba meu boi, do tambor de crioula, duas referências emblemáticas da Cultura Popular do Maranhão, mas o reggae é um representante, também, significativo neste contexto cultural. Portanto, jamais pode de ficar de fora de qualquer festa que aconteça, principalmente, em São Luís, onde o movimento tem maior representatividade – assegurou.

Jussara defende a presença de bandas e artistas solo como uma maneira de reforçar o movimento. Ela aproveitou para dar boas vindas a criação do Museu do Reggae em São Luís.

– A radiola tem seu peso, mas, o artista é fundamental para fortalecer o movimento. Trabalhar o lado orgânico do reggae e fazer a ligação com os dj´s, colecionadores e quem consome o reggae em São Luís. Atuando como parceiros, o reggae feito no Maranhão se manifesta com um produto cultural com consistência dentro e fora do Estado, principalmente, agora com a chegada do Museu do Reggae, em que na conversa que tive com o diretor do Museu, Ademar Danilo, a sua ideia é criar um museu que tem como prioridade mostrar a História do Reggae no Maranhão, sem  fazer vista grossa para a História do Reggae no mundo – elogia.

E quando o assunto é a Conexão Maranhão-Bahia, via o reggae, Jussara disse que estava voltando para Salvador, mas que o contato com o Maranhão estava apenas começando. Questionada sobre algum projeto em vista, ela comentou da possibilidade de um Encontro Nacional do Reggae, sem definir data e local.

– É necessário que haja esta troca entre os dois Estados. Uma série de elementos étnicos, culturais nos une. Este elo tem que existir e o reggae será um dos porta-vozes para se ouvir e ao mesmo tempo elevar uma discussão com o Brasil presente para se discutir políticas públicas e de autoafirmação do povo negro, para que não aceite a condição de peça figurativa e, sim, de respeito, dignidade. Afinal de contas, nós (povo negro) ajudamos a construir a história desse país – justifica.

DJ Ras Péu (BA). Foto: Facebook

Rolam as Pedras

Para o DJ Ras Péu, a experiência vivenciada em São Luís foi ímpar.

– Passar esses dias aqui foi um aprendizado. Tive o privilégio de conviver com os DJs locais numa conexão de informação bacana. Pude sentir que são duas escolas de reggae diferentes, mas que têm algo em comum: a de divulgar para o Brasil e o mundo uma música cujo o discurso é de paz e igualdade social. Uma coisa positiva que pude constatar é que os Dj´s e os clubes de reggae funcionam. Cheguei no período junino e mesmo com a força do bumba meu boi, tambor de crioula, as festas de reggae pipocam pelos quatro cantos de São Luís. Isso é muito positivo para quem trabalha e admira o reggae na cidade – relata.

Músico, pregador do Rastafarianismo na Bahia, Kamafeu Tawa. Foto: Facebook

A Essência

Para Kamafeu Tawa, músico mineiro, radicado na Bahia, defensor e pregador da essência  “Rastafari” em sua musicalidade mundo afora, o reggae serve para divertir e politizar as pessoas.

– O movimento reggae se desenvolveu como resgate de cultura ancestral dos negros escravizados que foram tirados de Gana e levados para o Caribe e a Jamaica. O ritmo fala de sofrimento, das angústias, das conquistas, da alegria, tristeza, de libertação, de protesto, de todo o sentimento daquele povo. Portanto, o reggae é muito mais que um som, uma música. É um movimento político e de transformação social. Por isso, precisamos resgatar os espaços e a visibilidade do ritmo. É sempre preciso levar o reggae para o centro do debate, os aspectos históricos do ritmo no Maranhão e sua inserção nos modos de vida – explica.

Na passagem por São Luís, Kamafeu definiu como gratificante, pois teve contato “in loco” com o reggae produzido e consumido no Maranhão.

– Pude perceber o contato direto de como as coisas acontecem por aqui com o reggae. É um movimento em que a diversão é o ponto forte. Isto não tira o mérito do movimento. Mas, assim como na Bahia é uma ‘Resistência Cultural’, com um efeito político que se fortalece com o trabalho dos DJ´s, colecionadores, os clubes de Reggae funcionando o ano inteiro. Só que no meio da diversão, não se pode esquecer que o “reggae é acima de tudo educação” – define.

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