Luiz Melodia foi uma paixão a primeira ouvida. O meu primeiro contato com a música dele foi em “Ébano”, finalista no “Festival Abertura”, da Rede Globo, em 1975.
De cara a voz, a presença de palco singular, elegância, fina sensibilidade, o jeitão intenso de viver dele, foram responsáveis em colocá-lo no meu arquivo pessoal e predileto, como um dos grandes nomes da música brasileira contemporânea.
Assisti vários shows de Luiz Melodia em São Luís, no Espaço Cultural, na chegada do Circo do Voador, de Perfeito Fortuna, diretamente do Rio de Janeiro para a Ilha do Amor, lá pelos anos 80, na Concha Acústica, Lagoa da Jansen, Ceprama, Centro de Convenções Pedro Neiva de Santana, Teatro Artur Azevedo, entre outros. E a sensação é que músicas como: “Pérola Negra”, “Magrelinha”, “Estácio Holly Estácio” são épicas e atemporais aos ouvidos.
Ao ler a análise feita pelo crítico Thales de Menezes sobre a história de Melodia, aproveitei para pegar as colocações pontuais escritas por ele no que diz respeito a biografia desse músico genial: a primeira foi a de que Luiz Melodia foi sambista a vida toda. No entanto, como um filho do Morro de São Carlos, no bairro do Estácio, Rio de Janeiro, nascido e criado na Escola de Samba do Estácio, ele não leu na íntegra a cartilha do gênero musical genuínamente brasileiro e carioca.
Enfim, gostava e convivia com o tal, mas se autoafirmou, também, como um artista com influências da música negra americana. Melodia fez um som mesclado, experimentando com o jazz, a levada do Soul, e, também, com o rock, reggae, etc.
Pode até ser denominado de “maldito”, juntamente, com Jards Macalé, Walter Franco e Jorge Mautner. Mas, Luiz Melodia, com jogo de cintura e quebra de paradigmas, também, soube se posicionar no mercado fonográfico como um artista popular. Um dos maiores legados foi o disco “Pérola Negra”, de 1973. Um disco que ainda impacta até hoje. Sem esquecer “Maravilhas Contemporâneas”, (1976), um trabalho com a excelência e maestria de Melodia, que encantou a gravadora Som Livre. Como cita o crítico musical Thales de Menezes: “a inclusão da faixa “Juventude Transviada”, na trilha da novela “Pecado Capital”, um dos maiores sucessos globais da década, fez com que, por um tempo, Luiz Melodia flertasse com o grande sucesso popular”. E fora composições dele regravadas por Gal Costa, “Pérola Negra”, e Maria Bethânia, “Estácio Holly Estácio” e Cássia Elller, “Esse Filme Eu Já Vi”.
Lá pela década de 1990, Luiz Melodia roubou a cena reiventando a antológica balada de Cazuza, “Codinome beija-flor” (Reinaldo Arias, Cazuza e Ezequiel Neves, 1985), ao regravá-la em 1991 para a trilha sonora da novela “O dono do Mundo” (TV Globo). E mais uma vez chama atenção de quem já conhecia e não conhecia o seu trabalho.
Mesmo na linha tênue entre o sucesso midiático e a maldição, Luiz Melodia primava, em primeiro lugar, pela qualidade musical e personalidade artística . Ele não fazia concessões às gravadoras. Um artista independente na hora de compor, dono de uma obra refinada e com alma brasileira, concebida em 15 discos, entre 1973 e 2014.
O último trabalho do cantor, “Zerima”, foi lançado em 2014, sendo apresentado no Rio de Janeiro e em Pernambuco. No ano seguinte, Melodia ganhou o 26º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Cantor de MPB.
Enfim, o Brasil perdeu um músico elegante, transgressor, que não se prostituiu musicalmente. E pegando mais uma vez carona com Thales de Menezes: artista com este tipo de comportamento e do naipe do “Ébano”, “Negro Gato”, da “Pérola Negra”, Luiz Melodia, “faz muita falta quando vai embora”. Portantio, “música para os seus ouvidos”…