“Em tempos de intolerância, o Bordel é um disco de alerta”

Com data, horário, local e atrações nacionais, como Caio Prado (RJ), LaBaq (SP) e Silvino (SP), além de um time de artistas maranhenses confirmados, o cantor VINAA, promove o show de lançamento do CD “BORDEL DE AMIANTO”, com muita energia, efervescência, originalidade autoral e celebração da diversidade por meio da música libertadora de padrões de gênero e dos comportamentos sociais pré-definidos.

“O VINAA sou eu. O Vinícius é o que o mundo quer que eu seja. Se pudesse, vestiria saia mais vezes. Mas, hoje, o único espaço livre e que me permite isso é o palco.”. Foto: Divulgação

Definido por VINAA como uma grande celebração, o show de lançamento do trabalho ocorre no próximo dia 11, quarta-feira, véspera de feriado, na FANZINE ROCK BAR, na avenida Beira-Mar, no Centro Histórico de São Luís. O show é assinado pela SATCHMO PRODUÇÕES, GALPÃO DE IDEIAS E MARKETING e MODA DO JOÃO.

O disco “Bordel de Amianto” tem produção de Sandoval Filho (integrante da Soulvenir – banda vencedora do Concurso EDP Live Bands 2016) e direção artística do aclamado Cury Heluy (compositor de ‘O Que Me Importa’, ‘Aparências’, entre outros sucessos nacionais, e, produtor de grandes promessas da MPB no final da década de 1960, no Rio de Janeiro).

A capa do CD foi uma concepção alinhada entre VINAA e o ilustrador Rodrigo Falco (SP) que captou com muita sensibilidade a essência do artista maranhense.

Na conversa informal com o jornalista PEDRO SOBRINHO, para o Blog PENSEI, RABISQUEI, VINAA conceituou o trabalho quando ingadado sobre o amor. “A manifestação livre do amor em todas as suas formas é a alma do Bordel. É um lugar para todos que amam e desejam ser amados. E nesses tempos de intolerância, o Bordel é um disco de alerta que se faz necessário para todo o Brasil cantar junto”.

PEDRO SOBRINHO – Você começou fazendo shows. De repente aposta na gravação do primeiro disco batizado de “BORDEL DE AMIANTO”. Como foi organizar esse disco de estreia?

VINAA – Gravar o disco sempre foi um sonho antigo. Mas desde 2012 tudo isso começou a ganhar forma. Aquele foi um ano bem difícil para mim, e, ao mesmo tempo, um dos meus períodos mais produtivos.

Eu compunha muito, e o disco começava a dar seus primeiros suspiros. Foi nesse período, há cinco anos atrás, antes mesmo de entrar de vez na noite de São Luís, que eu liberei na internet, o nome do disco e duas de suas faixas. A repercussão fora do Maranhão foi maior.

Tempos depois conheci o mestre de composição e produção musical Cury Heluy, e cá estamos nós, às vésperas de colocar esse filhote no mundo.

PEDRO SOBRINHO – Você lançou em rádio e plataformas digitais as músicas “MOÇO BONITO” e ‘FILHOS DE DANDARA”. Como você sentiu a reação do público, por meio destes “SINGLES’ o seu trabalho?

VINAA – O público tem abraçado o Bordel de uma forma muito singular. E essas duas canções, em especial, são bem emocionantes. Moço Bonito por falar de forma bem singela da rejeição familiar.

E Filhos de Dandara por tratar da (r)existência da comunidade LGBTQ+. Muita gente tem se identificado com as letras, inclusive héteros, pois falamos aqui apenas de amor. E tenho recebido confissões travestidas de manifestações de carinho das mais diversas.

PEDRO SOBRINHO – BORDEL DE AMIANTO é um manifesto ao amor como um sentimento transgressor ?

VINAA – A manifestação livre do amor em todas as suas formas é a alma do Bordel. É um lugar para todos que amam e desejam ser amados. E nesses tempos de intolerância, o Bordel é um disco de alerta que se faz necessário para todo o Brasil cantar junto.

PEDRO SOBRINHO – A sua inquietação o leva também a pôr pilha na questão da diversidade de gêneros. Qual o significado pra você levantar com orgulho a bandeira da liberdade sexual em um mundo que anda com um discurso conservador ou seja, reacionário ?

VINAA – É muito importante ter referências dentro de casa, no trabalho, com os amigos, com as crianças, do que se trata exatamente essa tal diversidade de gêneros.

Sinto que ainda estamos em discursos isolados e sem fôlego para ressoar por muito tempo, enquanto o conservadorismo avança a passos largos e ocupa muito mais o Congresso e as redes sociais do que nós.

Daí a importância da afirmação e de ocuparmos os espaços e os veículos de comunicação com informação sobre a questão dos gêneros.

PEDRO SOBRINHO – O disco e o show contam com as participações de gente daqui e de fora. Como pensou nesses nomes e o que cada um deles representa pra você ?

VINAA – Todos são muito queridos e representam em suas cidades a força desse amor libertário que pode transformar a nossa sociedade em um lugar, de fato, para todos. Caio Prado é uma das maiores referências da nova geração de artistas da música brasileira. Um compositor de mão cheia, incluindo a canção ‘Não Recomendado’ e ele virá a São Luís pela primeira vez atendendo meu convite. LaBaq tem um trabalho incomum que muito fala sobre o humano.

Em uma de suas canções, ela, que está chegando de uma turnê pela Europa, fala que devemos abrir um ‘riso, que de dor, já chega o mundo’. E o querido Silvino, com sua mensagem positiva, carrega o orgulho em forma de canção. E mais, traz abertamente as angústias dos soropositivos e levanta a discussão de gêneros com uma poesia tocante.

Em São Luís, muitos artistas LGBTQ+ passam despercebidos em meio à toda essa discussão, enquanto outros usam de sua arte para falar da diversidade de gêneros e dar voz a todos nós. Dentre eles, Milla Camões, Ana Flávia Sampaio, David Rebolativo, Dante Assunção, Junior Santiago, Luciano Garcia dentre muitos outros, são os convidados super especiais nesse show único em nossa cidade. Uma verdadeira noite de celebração!

PEDRO SOBRINHO – Em entrevista à Folha de São Paulo, Ney Matogrosso buscou se desvencilhar da bandeira LGBT apontando um viés “humanista e colocando em terceiro plano a sua sexualidade.

Ele acabou sendo alfinetado pelo Johnny Hooker, que reagiu ao comentário em seu twitter. Qual a sua opinião sobre a postura de um artista da importância de Ney Matogrosso, que segundo Johnny Hooker, foi um dia foi uma das maiores forças libertárias do país sobre a questão de gênero, e para ele, hoje, Ney se reduz a reproduzir o discurso do senso comum ?

VINAA –Todos nós deveríamos ter orgulho de conviver em uma época em que coexistem em plena atividade Ney Matogrosso e Johnny Hooker lutando, cada um ao seu modo, para existir. Dois artistas fora do comum que manifestam o amor pela arte de diversas formas.

Um deixando apenas o corpo e a música falar por si, e o outro, endossando sua mensagem por meio de um discurso necessário. Eles são algumas de minhas referências na música e jamais faria endosso deste embate criado apenas para enfraquecer o discurso de ambos.

PEDRO SOBRINHO – E voltando a comentar do show do dia 11 de outubro. É uma baita de uma produção. Com muita gente no palco, com destaque para Caio Prado, LaBaq e Silvino. Como é pra você reunir toda essa gente em um show significativo de lançamento do seu primeiro disco ?

VINAA – Ninguém vai longe sozinho. E essa mensagem de respeito e amor ao próximo já vem sendo pregada há muitos séculos. O que estou fazendo é apenas reunir músicos, artistas e performers em uma noite de celebração que será uma experiência única para o público presente.

PEDRO SOBRINHO – O primeiro passo está sendo dado com essa celebração. Já está articulando alcar voo fazendo com que o Brasil e o mundo conheçam o Vinaa e o BORDEL DE AMIANTO ?

VINAA – O Bordel está repercutindo no mundo da música e alcançando blogs e portais de referência no país. Ao mesmo tempo, estamos com o show inscrito em vários festivais de música espalhados por todo o Brasil. E tenho um projeto especial para o Bordel reverberar em 2018 de forma mais assertiva com o público infantil.

Quero levar a discussão de gêneros para as escolas públicas. Transformar toda a história do VINAA em um gibi com informações para nossas crianças. Se não dermos conta de consertar a sociedade que vivemos, ao menos vamos preparar a próxima geração para que conviva com mais amor e respeito.

PEDRO SOBRINHO – Qual sua relação com São Luís e como ela te inspira enquanto artista?

VINAA – São Luís é a minha paixão. Eu amo a cidade em que nasci, muito por culpa dos meus pais que veneram a nossa cultura, nossos compositores e sempre me mostraram o lado maravilhoso que é viver na ilha.

As minhas maiores referências estão guarnecidas aqui. Da poesia à música. O Bordel tem toadas e alusões à nossa cultura de forma muito bonita. E sinto que irei explorar isso ainda mais nos próximos trabalhos.

PEDRO SOBRINHO – Quais são as suas influências artísticas, que nomes te inspiram como cantor?

VINAA – Sem dúvidas os puxadores de bumba-meu-boi são meus ícones. Nosso boi é uma ópera popular, concorda? Ali há muita transgressão!! Mas me lembro que escutava muito música italiana quando pequeno por causa do coral infantil no qual fazia parte. Tinha cd dos 3 tenores e tudo. Risos. Além destes, Freddie Mercury, Cazuza e Caetano Veloso estão sempre comigo.

PEDRO SOBRINHO – A performance é parte importante do seu trabalho. Como você construiu essa persona no palco? Ou existe apenas um Vinaa?

VINAA – O VINAA sou eu. O Vinícius é o que o mundo quer que eu seja. Se pudesse, vestiria saia mais vezes. Mas, hoje, o único espaço livre e que me permite isso é o palco.

PEDRO SOBRINHO – Você cita que as composições do disco BORDEL DE AMIANTO são frutos da sua inquietação de anos em não poder ser quem eu realmente gostaria de ser. Pra finalizar o que diria ao garoto que você era antes de encontrar o caminho da música

VINAA – Liberte o bordel que habita em você.

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