A atriz maranhense, Lorena Garrido, faz parte do elenco da peça “O INCRÍVEL MUNDO DOS BALDIOS”, cuja estreia será neste sábado, (3/3), na Satyros Um – Praça Roosevelt, 214, São Paulo, conversou com o BLOG, juntamente com os diretores da dramaturgia de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez.
Nascida na tradicional e imponente, Rua Grande, em São Luís, Lorena chegou em Sampa, aos 18 anos, e percebeu que para ela “existia amor em SP”.
Há quatro anos na Satyros, ela fez as oficinas da companhia e foi acolhida. O INCRÍVEL MUNDOS DOS BALDIOS” é a sexta peça dela na companhia teatral paulistana.
Ao ser indagada sobre o que representa a SATYROS, Lorena diz que a companhia tirou ela do automático e a faz mais humana. “Me retoma isso todos os dias estar aqui, refletir sobre a existência e não apenas passar por ela. São Paulo é perigosa nesse sentido”.
A temporada de “O INCRÍVEL MUNDO DOS BALDIOS” vai até 26 de agosto, com apresentações às quintas e sextas às 21h; sábados às 19h30 e 21h30; domingos às 19h30.
Curioso para saber se a peça vai percorrer o Brasil e São Luís está na agenda da Satyros. “Estamos sempre disponíveis para arrumar as malas e cair no mundo”. E quem sabe não aportamos aí na ilha com este trabalho ?”, sugere Ivam Cabral.
PEDRO SOBRINHO: Qual a cidade no Maranhão você nasceu ?
LORENA GARRIDO: Nasci em São Luís, ali pertinho da Rua Grande, onde me criei, no Hospital Português.
PEDRO SOBRINHO: O Teatro começou por São Luís ?
LORENA GARRIDO: Participava das peças religiosas da escola e brincava. Com a minha irmã e meus primos de fazer novelas numa câmera com fita VHS que meu pai recebeu numa conta, uma dívida que alguém tinha com ele.
Nós fazíamos tudo lá no casarão do meu avô, na Rua Grande, onde funcionava a antiga Farmácia Garrido. Aliás, ótima locação! Os móveis, lustres e objetos antigos nos ajudavam na produção de arte.
Ele também emprestava os figurinos, só da cintura pra cima. Por isso, a câmera só trabalhava em plano americano. Quase fiquei cega em uma dessas produções… Era muito “amor à arte”! Kkkk
PEDRO SOBRINHO – Quantos anos morando em São Paulo ?
LORENA GARRIDO – Vim pra São Paulo com 18 anos, logo que terminei o colegial. Já são dez anos. Em maio, onze.
PEDRO SOBRINHO: Qual o teu primeiro envolvimento com o teatro ?
LORENA GARRIDO: Meu primeiro envolvimento com teatro profissional, de fato, foi com o Satyros. Aqui pisei no palco pela primeira vez, morrendo de medo. O bicho me pegou e o frio na barriga virou vício…
PEDRO SOBRINHO – Há quanto tempo na Satyros ?
LORENA GARRIDO: Estou há quatro anos no Satyros. Fiz as oficinas da companhia e fui acolhida. A primeira delas resultou no espetáculo “O Balcão de Alice”, a partir da obra de Jean Genet. A direção era do Henrique Mello, com ajuda do Gustavo Ferreira. Meus amores, e hoje, colegas de cena que admiro muito! Ficamos em cartaz por seis meses. Foi muito especial!
PEDRO SOBRINHO – O que significa pra você integrar o elenco da Satyros ?
LORENA GARRIDO: De verdade, eu amo estar aqui. Ressignificou boa parte da minha vida, me tirou do automático e me faz mais humana. Me retoma isso todos os dias estar aqui, refletir sobre a existência e não apenas passar por ela. São Paulo é perigosa nesse sentido…
PEDRO SOBRINHO : Qual a importância da pela “O Incrível Mundo dos Baldios” nesta sua relação com o teatro ? Como é pra você trabalhar em um elenco de artistas diversificados e um tema cheio de complexidade ?
LORENA GARRIDO: O Incrível Mundo dos Baldios é a minha sexta peça na companhia. Fiz parte da tetralogia sadeana e da trilogia das pessoas também. A diversidade do elenco é a melhor parte. Os processos de criação de cada um dos espetáculos são profundos, mergulham na intimidade dessas “diferenças” de uma forma mágica que revela, nesse lugar, exatamente o oposto, a igualdade. É como dizíamos na peça anterior, Pessoas Brutas: “somos todos um só”… E isso tem a ver com o que disse sobre o significado de fazer parte da Satyros. Entende ?
PEDRO SOBRINHO: Como o seu personagem de médica se insere no contexto do espetáculo?
LORENA GARRIDO: A peça conta cinco histórias diferentes, pessoas em buscas de pequenos milagres, remédios para suas almas naqueles momentos. A médica está na cena do Cruzeiro, em que uma advogada bem sucedida, acometida por uma doença terminal decide encerrar a dor. Ela programa seu suicídio assistido que acontecerá no Estreito de Beagle, a terra do fim do mundo e lugar das mulheres que ela mais admirava, as Yamanas.
PEDRO SOBRINHO: O espetáculo é baseado em pesquisa que durou sete meses e envolve no elenco um egresso do sistema prisional, transessuais, uma refugiada palestina recém-chegada ao país. Como é trabalhar esse mix de etnias, gêneros, considerados baldios na dramaturgia de Ivam Cabral de Rodolfo García Vázquez ?
RODOLFO GARCÍA VÁZQUEZ: Na Satyros, sempre apostamos na diversidade e nossa questão mais importante sempre foi a da alteridade. É importante a conexão com o outro, com o diferente. Nosso diálogo sempre apontará para o desconhecido.
Nos últimos trabalhos, vimos discutindo o nosso lugar no mundo e descobrimos que somos Baldios. Tanto no significado brasileiro, que é o lugar abandonado, ermo, onde se depositam entulhos; quanto no definição portuguesa que entende baldio como o lugar do encontro, da comunhão. Isso é, por si só, um milagre.
A teoria do caos surge num momento em que começamos a indagar pelas questões da intuição. Chegamos aqui trazidos pelo bater das asas de uma borboleta, por intuição ou destino? Temos pensado nisso.
PEDRO SOBRINHO: Pra encerrar, existe a possibilidade do espetáculo percorrer o Brasil ?
IVAM CABRAL: Sempre gostamos de viajar e o Satyros tem se apresentado em muitas cidades pelo Brasil. Estivemos em São Luís em 2009. E quem sabe não aportamos aí com este trabalho ? Estamos sempre disponíveis para arrumar as malas e cair no mundo.