Nesta sexta-feira, (27/7), vai ocorrer a festa de lançamento da 10ª edição do Lençóis Jazz & Blues Festival, a partir das 21h, no Teatro Artur Azevedo, em São Luís.
Os ingressos para a noite de lançamento devem ser trocados por um quilo de alimento não perecível na bilheteria do TAA, até às 20h do dia 27 (sexta-feira), dia do lançamento do festival. Todos os alimentos arrecadados serão doados à Creche Caminhando com Cristo, que atende crianças no bairro Parque Jair.
A anfitriã da noite será a cantora carioca Leila Maria. Carioca de nascimento e artista mundana, graças ao seu dom de cantar, Leila Maria traz, em única apresentação, um mix dos CDs Holiday in Rio, Canções do Amor de Iguais e Off Key.
– Este é o show que venho apresentando nos festivais de que tenho participado recentemente e que nunca é igual, não apenas por causa da liberdade de criar e recriar as canções, mas também porque a gente sempre muda os standards: pode ter Over the Rainbow, ou Summertime, ou Easy Living, ou Embraceable You, ou You Go to My Head… enfim, surpresas várias – assim Leila define o encontro que terá com a plateia maranhense.
No bate-papo com este Blog, a artista quer a interação de quem for ao show.
– Eu entendo que um show é feito também pela plateia, e se o público contribui com sua atenção e vibração, todos teremos uma ótima noite -.
Leila Maria falou, ainda, sobre o Lençóis Jazz & Blues Festival, disco novo, referências musicais, entre outros assuntos.
PEDRO SOBRINHO – Como uma carioca, criada em Madureira, terra do samba, dedica o seu trabalho ao Jazz, uma música comercialmente restrita, principalmente, no Brasil ?
LEILA MARIA – Independentemente das restrições do gênero, o Jazz sempre fez parte da minha história particular, antes mesmo da profissional. Em casa, eu ouvia de Billie Holiday a Dalva de Oliveira, de Ella Fitzgerald a Elizeth Cardoso, desde pequena.
Assim, uma das faixas do meu primeiro CD, é Get Out of Town (Cole Porter), com um arranjo percussivo que acabou chamando atenção pelo que, na época, foi chamado de “inusitado”.
E eu não considero que tenha dedicado meu trabalho ao Jazz. Acontece que, quando, infelizmente, o selo em que o gravei fechou, a já pouca execução nas rádios cessou de vez, e uma grande quantidade de cantores de MPB (pop ou não), inflacionava e lotava os lugares para apresentações ao vivo na cidade, eu resolvi investir no “inusitado” para criar um espaço para continuar mostrando meu trabalho aqui no Rio.
E isso porque, embora os standards de jazz mais conhecidos como, My Funny Valentine, Night and Day ou I’ve Got you Under My Skin (coincidentemente, as duas últimas são de Cole Porter, rs) façam parte do repertório dos chamados “cantores da noite”, muito poucos podem apresentar temas como A Night in Tunisia, Moonglow ou You’ve Changed, canções que sei de cor.
Esse repertório que os amantes de jazz não estavam acostumados a ouvir por aqui e sendo cantado sem necessidade de ler a letra (trabalhei como professora de Inglês), me abriu várias frentes de trabalho no Rio e também em outros estados. E mais que isso, me deu a chance de cantar com músicos maravilhosos, que me ensinaram muito, como o maestro Paulo Moura, (com quem me apresentei e viajei por três anos), o pianista Cristóvão Bastos, (que fez os arranjos do CD Off Key), e muitos outros.
E mesmo cantando jazz, nunca deixei de cantar e compor música brasileira.
PEDRO SOBRINHO – Esta denominação da crítica de a “Billie Holiday Carioca”, “Leila Maria do Harlem”, a envaidece ou prefere o rótulo de uma cantora original e que caminha com as suas próprias pernas ?
LEILA MARIA – Você, jornalista que é, deve estar acostumado ao fato de que a mídia gosta de rotular, né? Talvez para ter alguma referência, um termo de comparação…
Eu já acho um surpreendente luxo que alguém pense em me comparar a ela. Mas entendo que Billie Holiday tinha voz e fraseado absolutamente incomparáveis e, literalmente, inimitáveis. E eu não seria louca sequer de tentar imitá-la.
Eu a admiro muito e em uma coisa eu me identifico totalmente com ela: ela dizia não ver a menor necessidade em ser uma cantora profissional se se vai imitar uma outra…
E no Harlem só estive pela primeira vez, em 2016! Aprendi a falar Inglês aqui mesmo porém, não nego, estimulada em muito pela música negra norte-americana, do jazz ao pop da Motown. E pelos Beatles também, rs! É a mistura disso tudo com a MPB que forma o meu canto. Que, eu espero, seja tão inimitável e original quanto o da própria Billie!
PEDRO SOBRINHO – Pra você que trancou a faculdade de jornalismo e achou que a música resolveria sua vida. O que é ser cantora diante de uma trajetória artística marcada por conquistas, entre as quais, a premiação no 25º Prêmio da Música Brasileira, em 2014, na categoria “álbum em língua estrangeira”, com o cd “Holiday in Rio – Leila Maria canta Billie”, e por ter sido vocalista da banda do maestro Paulo Moura (1932-2010), com quem excursionou pelo Brasil. Também já dividiu o palco com Alaíde Costa, Angela Ro Ro, Áurea Martins, Ed Motta, Hamilton de Holanda, Jorge Mautner, Luiz Melodia, Mauro Senise, Orquestra Imperial, Yamandu Costa, Zezé Motta, entre outros ?
LEILA MARIA – A música, realmente, resolveu a minha vida! Como jornalista ou como professora de Inglês, eu seria sempre uma ótima cantora, rs! Quero dizer que aprendi o bastante sobre mim mesma para afirmar que o que faço melhor é cantar e que cantar é o melhor que posso dar ao mundo.
Eu trabalho com aquilo que eu amo fazer. E nesse mundo onde “tempo é dinheiro” e as pessoas confundem valor e preço, não são todos que podem dizer isso, né? Portanto, eu me considero resolvida nessa vida: fazendo o que eu faço de melhor e que amo fazer, eu ainda dou alegria às pessoas pelo menos enquanto dura o show ou o CD!
PEDRO SOBRINHO – No seu terceiro disco, ‘Canções do Amor de Iguais’ considerado um CD temático, é um projeto criado pelo jornalista Antônio Carlos Miguel, crítico musical de O Globo, prontamente encampado por você. Neste trabalho houve um engajamento seu com a questão de gêneros, ou seja, uma defesa ao amor entre os iguais ?
LEILA MARIA – Sim, gostei muito da ideia do Antônio que hoje pode-se até ver como precursora, já que há tantos cantores, cantoras e compositores se colocando nesse nicho da “questão de gêneros” que aliás, é uma questão muito ampla, diversificada e também polêmica.
Quanto ao amor, sou a favor de qualquer maneira: entre iguais ou desiguais, tanto faz, desde que seja amor. Minha única implicância quanto ao projeto, era o cacófato que eu tinha que ouvir sempre que me perguntavam o que eu achava de cantar “música gay”, rs!
PEDRO SOBRINHO – Com relação a Billie Holiday, você se considera a intérprete ideal para a obra da diva do jazz?
LEILA MARIA – Não! Aliás, nem eu nem ninguém… Música popular (e o jazz é música popular, ainda que mais sofisticada em relação à chamada música pop…) é algo subjetivo: está sempre sujeita ao gosto de quem ouve.
Meu pai, oficial da Marinha e que, ao trazer de suas viagens os discos que nos apresentaram o jazz tocado e cantado, foi o grande responsável por introduzir em minha vida esse som; não gostava da voz nem do estilo de Billie Holiday… preferia Sarah Vaughan.
E uma das características mais marcantes do jazz é exatamente a grande liberdade que ele proporciona aos intérpretes, músicos e cantores. Você pode pegar um tema, qualquer tema, e dar a ele a sua forma. Criar e recriar, inventar e reinventar. Tanto é que, os standards – que são assim chamados por serem considerados padrão do gênero – foram gravados (e regravados) por, praticamente, todos os grandes intérpretes, tanto músicos quanto cantores.
As chamadas três grandes (Billie, Ella E Sarah) tinham um repertório bastante semelhante, composto, basicamente, por esses standards. E só Billie Holiday deve ter umas dez regravações de My Man ou The Man I Love, todas diferentes! Ou seja, a obra de Billie Holiday é a sua voz inconfundível e sua maneira brilhante e, como eu já disse, inimitável, de cantar esses standards.
Então, assim como eu penso, pra haver uma intérprete ideal da “obra” de Billie, ela teria que nascer de novo, rs! Porque, na verdade, construir uma carreira, uma obra, em cima desses standards (alguns compostos na década de 20 do século passado!) todas fizeram e fazem, desde Dinah Washington e Nina Simone, até Diana Krall e Jane Monheit.
PEDRO SOBRINHO – Além do legado musical, o que mais comove você em Billie Holiday ao ponto de tê-la como influência musical ?
LEILA MARIA – Sua entrega à música, ao cantar, como a expressão maior de sentimento, de vida… E é sabido que a dela foi cheia altos e baixos. Na verdade, mais de baixos do que de altos, né? No entanto, tendo sofrido o que sofreu, ela foi capaz de transformar tudo em música e dar isso ao mundo.
Para esse mundo que a fez sofrer, ela deu sua música. Uma música de alta qualidade e que até hoje, 59 anos (ela morreu em 17/07/1959) depois de sua morte, ainda influencia e move as pessoas mundo afora. E gosto de saber que ela, como eu, era do signo de Áries, rs!
PEDRO SOBRINHO – “Tempo” é o nome do seu disco com previsão de lançamento em setembro deste ano. O que ele traz para os adeptos da sua musicalidade ?
LEILA MARIA – O meu novo álbum, que será lançado pela Biscoito Fino, provavelmente, em Setembro, se chama “Tempo”.
Esse meu novo álbum é um retorno ao tempo do meu primeiro CD, com a diferença de que nele, não há nem mesmo uma música em Inglês: são músicas minhas e de amigos da cena musical contemporânea aqui do Rio, todas inéditas.
Há só uma regravação, de uma música de Sueli Costa. É um som diferente daquilo que se tem ouvido na música popular, tanto pelos arranjos quanto pelos textos. Bom, é claro que eu gosto, né? Quando sair, vou te mandar um, vou querer sua opinião!
PEDRO SOBRINHO – Eu agradeço muito e vou aguardá-lo para fazer uma resenha. Pois bem, e o mercado ‘gringo’ está aberto pra você ?
LEILA MARIA – Eu penso que o mercado “gringo” não está aberto para quem não tem uma obra em Inglês ou que, pelo menos, não faz um investimento muito grande de tempo e dinheiro.
Cantar Jazz não necessariamente proporciona abertura de portas nesse mercado internacional, especialmente o norte-americano que, é claro, detém a primazia no gênero.
Confesso que ainda não estou visando este mercado, não sem antes ser grande na minha aldeia porque, como diz Fernando Pessoa, “a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer”. Além do mais, hoje mais do que nunca, a aldeia é global, rs!
PEDRO SOBRINHO – O que você acha do Lençóis Jazz e Blues Festival, que não ficou fechado apenas em dois gêneros, e resolveu caminhar com a diversidade musical ?
LEILA MARIA – Esse é o caminho que todo grande festival deveria trilhar e que acho, vem se tornado uma tendência. Mesmo os grandes festivais internacionais, como o de Montreux, já trabalham assim.
PEDRO SOBRINHO – É a sua primeira aparição no Maranhão. E no que diz respeito ao show no Lençóis Jazz e Blues Festival, no Teatro Artur Azevedo, em São Luís, o que o público ávido por novidades pode esperar ?
LEILA MARIA – Vou acompanhada do trio do pianista Fernando Costa (baixo acústico: César Dias, bateria: Ricardo Costa), músicos que já acompanharam grandes cantores como Maria Bethania e Nana Caymmi.
Com eles vou apresentar um mix dos CDs Holiday in Rio, Canções do Amor de Iguais e Off Key, que é o show que venho apresentando nos festivais de que tenho participado recentemente e que nunca é igual, não apenas por causa da liberdade, como falei pra você anteriormente, de criar e recriar as canções, mas também porque a gente sempre muda os standards: pode ter Over the Rainbow, ou Summertime, ou Easy Living, ou Embraceable You, ou You Go to My Head… enfim, surpresas várias, rs!
Eu entendo que um show é feito também pela plateia, e se o público contribui com sua atenção e vibração, todos teremos uma ótima noite. Muito obrigada pelo espaço, Pedro, e até lá! Beijos.
PEDRO SOBRINHO – Grande abraço Leila. E São Luís aguarda por você e pela sua música…