A Baiana System é o que se tem de mais multirítmica, conectada e pulsante na música brasileira contemporânea. É uma das bandas mais cultuadas pela crítica e por quem gosta de sair de casa em busca de uma diversão saudável e dançante.
O rádio brasileiro precisa sair um pouco da zona de conforto, perceber que existe uma música que foge do lugar comum, investiga às raízes e experimenta sonoridades com inteligência. É o autêntico paredão eletrônico produzido por esta banda soteropolitana, ainda, não compreendida e executada nas programações das FM´s brasileiras.
Enfim, deixamos a discussão do lado, vamos ao que interessa. Após o álbum “DUAS CIDADES”, a BaianaSystem lançou no último dia 15 de fevereiro, o seu terceiro disco, intitulado “O FUTURO NÃO DEMORA”, que sai primeiramente em edição digital, pelo selo Máquina de Louco.
Produzido por Daniel Ganjaman, com coprodução da banda, o álbum “O FUTURO NÃO DEMORA” traz no toque do ijexá, ‘Água, a parceria de Russo Passapusso com Antonio Carlos & Jocafi, compositores que formaram dupla baiana em evidência na década de 1970.
Jocafi, aliás, reforça o canto dessa música cuja letra saúda a água como o ouro do planeta, com citação do pioneiro afro-samba “Água de beber” (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1961). A gravação tem o toque da Orquestra Afrosinfônica, do maestro Ubiratan Marques, autor do arranjo.
Na sequência da viagem marítima, Bola de cristal (Russo Passapusso, Roberto Barreto, Seko Bass e Ubiritan Marques) aponta a cadência do samba da Bahia na levada do arranjo e do toque da guitarra marota de Roberto Barreto. É a música que cai com mais suingue no repertório do álbum.
Em “Salve” (Russo Passapusso, Seko Bass, Antonio Carlos, Jocafi e BNegão) parte do toque do ijexá para percorrer a ponte rítmica que liga África e Bahia, evocando ícones que demoliram barreiras sociais e musicais – Martin Luther King (1929 – 1968), Nelson Mandela (1918 – 2013), Orkestra Rumpilezz, Ilê Aiyê e Nação Zumbi – na letra que cai na batida funkeada do rap com a entrada do BNegão para saudar os ancestrais.
A faixa “Sulamericano, é potencializada pela presença de Manu Chao, para denunciar a opressão ainda em vigor na América Latina.
Composto por 13 faixas, o novo trabalho é dividido em “lado A” e “lado B”, tal como um vinil. Não é à toa, que vai ganhar em breve uma versão em LP.
O álbum “O FUTURO NÃO DEMORA” foi concebido sob a atmosfera da bucólica Ilha de Itaparica (BA). Ele é mais orgânico do que o “DUAS CIDADES”. Embora pulsar mais como um coração, não perde a pegada eletrônica, o discurso político contundente. A banda BaianaSystem bebe das ruas, dialoga com o mundo e constata que o futuro é agora. E para minha felicidade, todas as músicas já estão na minha playlist.