Cá estou solidário com a cantora maranhense Anastacia Lia, vítima de suposta injúria racial, na madrugada dessa segunda-feira (5/10), em São Luís. A artista teria pedido uma corrida por aplicativo após concluir uma apresentação musical em uma casa de festas na região do Cohatrac.
Reconheço a importância do serviço do transporte por aplicativo, sei que tem muita gente honesta trabalhando, assim como existem clientes intransigentes. Agora, é necessário que seja feito um crivo na escolha da categoria. Existe por aí, um “naco” deles que ficou desempregado, muitos com diplomas de terceiro grau, guardado na gaveta, e por falta de oportunidade no mercado de trabalho tiveram que optar por este modelo digno de serviço. Só que alguns ressentidos com esta opção que a informalidade dispõe em tempos de recessão econômica e desemprego, tiveram que terceirizar os seus carros com as empresas de aplicativos. Esquecem que estão prestando um serviço público. E no extenso caldeirão de motoristas circulando pela cidade você se depara com figuras amáveis e outras cheias de complexos. Muitos desses mostram a habilidade de mal educados dirigindo em alta velocidade, colocando música chata em volume de doer os tímpanos. E que nestes tempos de pandemia têm deles que não utilizam máscaras, grosseiros no atendimento ao cliente e desesrespeitosos, principalmente, com mulher, negro, idoso, pessoas pobres. Pior, a gente tem que evitar conflitos porque não temos ideia de quem está à frente do volante não carrega uma arma de fogo.
E pegando carona com o que aconteceu com Anastácia Lia, certa vez fui vítima de injúria racial, por parte de um jovem motorista de aplicativo. Ao sair do trabalho em um domingo, de bermuda e chinelo, e ao entrar no carro do dito cujo, ele perguntou qual a era minha função na empresa. O mesmo não deixou que eu respondesse e já foi logo afirmando: você é vigilante na empresa que você trabalha. Preferi ficar em silêncio naquele instante e fui ouvindo os ‘zilhões’ de baboseiras que saíam daquela triste boca, que fechada seria um poeta. Deixei que ele chegasse até a porta da minha casa. Chegando lá, perguntei: você queria saber qual a minha profissão, mas logo foi afirmando se eu era o vigilante. Não quis dizer o que eu era até porque achava uma bobagem esta história de diploma, dar satisfação, principalmente, a gente deslumbrada e digna de pena. Aí, perguntei a ele ? Com todo respeito aos vigilantes, mas, para o seu cérebro de gelatina toda a pessoa que trabalha nesta função deve ser negro ? Não é isso, não é por você ser negro. Aí, veio a velha desculpa que ele não era racista e que tinha feito o comentário devido eu não ter carro. Virei a ele e disse: sim, realmente, eu não tenho, não preciso ter carro no momento, porque tenho à minha disposição, me dou o luxo de ter um ‘chofer’ que é você. Uma pena o meu ‘chofer’ ser tolo, iludido e ressentido com o que faz devido complexo de superioridade alienante que carrega contigo. Enfim, sorte sua ter um passageiro que vai te pagar honestamente. Pega a grana e passar bem !
Enfim, relatos como o meu, Anastácia Lia, entre outros negros, são suficientes para concluir que pedir um transporte por aplicativo é um risco para pessoas negras. Além dos episódios de racismo explícito, existem os velados, como a recusa de alguns motoristas em parar para usuários negros.
Anastácia agiu corretamente ao fazer o boletim de ocorrência contra os supostos agressores. O caso já está sendo acompanhado pela Comissão da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, vinculada à Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Maranhão (OAB-MA). Segundo o presidente da CVENBOA, o advogado Erik Moraes, Anastacia foi vítima de injúria racial, constrangimento e coação. O próximo passo será denunciar o caso junto ao Ministério Público e registrar um novo Boletim de Ocorrência, desta vez na Delegacia de Combate aos Crimes Raciais, Agrários e de Intolerância.
Esperamos, também, que medidas sejam adotadas pelas gigantes do ramo. Apenas notas e textões condenando atitudes preconceituosas de prestadores de serviço estão longe de resolver a questão. PALAVRA DA SALVAÇÃO !